domingo, 18 de abril de 2010
Coesão
Depois de um longo dia de serviço,
no final de um sábado,
pelos lados do Aterro do Flamengo,
surge o deus Sol colorindo o horizonte, com a cor rubra da paixão e do pecado da carne,
o mundo que, até então, era acinzentado.
Até então, tudo ao meu redor era cor de nada,
tudo cheirava a nada,
tudo fedia a nada.
Só monotonia.
Ele, o deus Sol, chega, abrasando-se, irradiando todo o seu calor,
toda a sua força esplêndida,
toda a sua mágica,
toda a sua feitiçaria divino-humana.
Ah, quanto desejo!
Ah, quão doce a sua vinda!
E tudo se tornou novo e inédito.
Por volta das 19hs,
no fim de um dia de sábado,
depois de muitas horas de serviço,
ele surge, o Sol.
Lá, no apartamento da rua Marquês de Abrantes, ponho-me a mirá-lo,
a observá-lo, a imaginá-lo na sua mais sublime forma:
Nu.
Aí, ele me olha e sinto, no seu olhar, a malícia,
o pedido mudo que os seus olhos incandecentes lançam sobre mim,
como lava sobre a terra;
me abraça,
esfrega o seu corpo iluminado no meu,
me beija,
me revela,
me desnuda,
me suga,
me sorve,
me chupa,
me seca,
me molha...
Quanta ação!
Ele me quer,
está sedento por mim: posso senti-lo
Ah, bendito!
E ele vem, se aproxima, se chega,
e o meu corpo negro se eriça,
se arrepia e o meu sexo lateja.
Chega a pulsar, como o meu coração...
Bum, bum, bum...
Ah, maldito!
E ele vem.
Me agarra,
me beija ,
me sarra,
me lambe,
me suga,
me sorve,
me chupa...
Um completo rito amoroso, entre o humano e o imortal.
Ele, como somente ele sabe fazer,
me lava na banheira
me cozinha na cozinha,
me prepara na sala...
me come no quarto.
E como come!
Pede-me lincença para entrar e eu lhe dou.
E ele entra devagar, assim como se nada quisesse,
vem de mansinho, de forma inócua,
e cada centímetro do meu ser sente a sua força,
o seu domínio, o seu calor.
Desejo mais, mais, mais, mais...
Deixa o meu ser, cansado,
amassado.
E ele sua, e nós suamos.
Aí, ele, o deus Sol, esparge sobre mim a sua tempestade branca;
enquanto o seu corpo místico estremece;
enquanto eu me ardo,
e me queimo na cama!
Que dor!
Contudo, agora,
o meu bem foi-se embora,
e foi para voltar nunca mais.
Passou o tempo e já não o posso contemplar,
pois o movimento giratório da Terra ,
que não pára um segundo,
mudou as nossas vidas e levou-o para outra terra...Outro céu.
Contudo, permaneço aqui, sozinho desde aquele dia trágico,
sem a sua luz, sem o seu fogo...sem o seu amor.
No final desse dia,
vejo a Lua aparecer entre as nuvens frias do céu.
Tudo ao meu redor cheira a nada ,
e a nada fede: só monotonia e repetição.
Os meus dias voltaram à sua normalidade cinza,
o meu corpo retoma a sua frieza...
Somente o meu coração ainda guarda o calor daquele amor.
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Esse poema é uma canção de amor... Enquanto lemos sentimos que uma melodia envolve nossa mente e alma. Essa melodia é sentida através do encadeamento das palavras, da forma que combina os sons fonéticos expressos na sonorização versus significância.
ResponderExcluirO sexo presente em todo o texto, com a vantagem dos argumentos pornográficos se manterem totalmente a distância infinita da representação sexo versus amor, que o texto nos remete.
Mais um dos seus textos de primeira linha, de uma fase área de seus escritos. Simplesmente fantástico!
Carlos Cabral
corrigindo: fase áurea
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