sexta-feira, 26 de março de 2010

O Estigma



Aquele negro era maldito, e sabia disso.
Fazia questão de jamais se esquecer de sua condição: Ele carregava um dos 7 Pecados.
Nasceu Negro, sob um teto de Negros, aprendeu a língua Negra, se alimentou do angu e da farofa, jogou Capoeira; cultuou as Divindades, Santos e Orixás, raspou sua cabeça Negra, foi possuido no grande Terreiro.
"Zin fio, é de Keto", lhe sentenciou um velho caboclo na Ciranda.
-Moço, moço - uma mulher chama, temente - apague essa candeia. Deixe tudo no breu, porque é a hora do Ponto!

Okê arô!
Okê arô okê!

Entoavam os pretos, rodando na Ciranda.
Em instantes, os homens e as mulheres despojaram-se de sua condição humana e tornaram-se Cavalos, prontos para serem "montados" por suas entidades.
Era a hora da união plena do Maldito com o seu Senhor; momento da comunhão, pela qual tão ansiava.

Acabada a festa, os caboclos, pretos-velhos e orixás subiram.
Só restou um: O Dono do Negro marcado.
E era um Exu sedento por carne humana, amante do suor dos homens.
E naquela noite resolveu saciar os seus desejos mais promíscuos, mais abomináveis em relação aos homens.
Chamou um dos ogans do barracão, o qual veio sem hesitar.
Quando a porta do cômodo se fechou, não houve mais necessidade de falar: os olhos disseram tudo.

O coração acelerado não se fazia de rogado, o tesão corria pelo corpo como uma descarga elétrica e pênis, virtualmente ereto, se livrara dos panos e já começava a molhá-los, lubrificando-os.

O jovem Ogã desejava ser possuido por Exu, sentir a força de sua energia, o peso daquele corpo sobre o seu. Por isso, subjugou-se tão facilmente, tão subservientemente se abandonou ali.

Ajoelhou-se, quando viu o pau preto do homem a quem Exu possuira, chegando a salivar tão belo era o falo.

Preto.
Grosso.
Ponta vermelha como o fogo do inferno.
Saco grande.

Jamais vira um como aquele.
Aquele pau era tão naturalmente especial ou a presença da entidade lhe aumentava o valor?

Chupou muito aquele mastro, deixou molhado.
Entrou em transe espiritual, pois cada gota que surgia naquele piru lhe caia como alucinógeno.
Depois de chupar, lamber e de cheirar tudo o que pôde, Exu lhe mandou virar-se, e colocar-se como um bicho.
Ogã obedeceu.

Exu sorriu, maldosamente.
Aquele sorriso frio e calculista de alguém que está no controle.

Passados segundos, o fez deitar-se sobre o sofá, levantou-lhe as pernas e ...
O grito não pôde ser contido!
Era como se um ferro em brasa penetrasse aquele cu raspado!

Quem se encontrava nos cômodos vizinhos não teve como fingir que não ouviu.
Mas nenhuma alma ousou falar sobre isso, pois sabiam todos que Exu reinava ali, que aquele menino era a presa do dia.

Aquela bunda estava suada e aquele cu mais que molhado, à espera da penetração.
Mas não contava que seria tão infernalmente quente o pau daquele Ser.

Quando o pau encostou no cu do Ogã, seu espírito foi arrastado com uma força descomunal a um lugar desconhecido entre o espaço e a ausência do mesmo e foi como se nada mais se movesse no Universo, exceto aquele negro debruçado sobre o seu corpo nu.
Ele não era nada, além de comida. Exu o comia com tanta força, com tanta selvageria, com tanta sede, que seu sangue derramava-se pelo sofá. Mas a dor sumira da terra, naquele instante.
O grito era puramente prazer!
Um prazer tal qual nenhum outro homem seria capaz de proporcionar...

Exu subiu!

Okê arô!

A maldição daquele Negro, acredito, que já esteja clara.

Um comentário:

  1. Falar que este texto é lindo, é simples demais. Você realmente brinca com as palavras, com a composição das frases. Assim como um músico arranja as notas para tornar a música harmoniosa e melodica, você consegue compor esta mesma harmonia, com as palavras. Cada texto seu tem uma melodia diferente, mas sempre identificada. E consegue, além disso, exprimir um sentimento, uma relação, um momento de sua vida. Às vezes você é o senhor (na maioria das vezes) e às vezes é o subjugado. Mas atualmente a relação de senhor e submisso está muito presente em seus textos.
    Que frase de encerramento genial, quando você faz um contraponto entre a palavra negro e claro.
    Lindooooo
    Abraços do seu sempre amigo
    Carlos

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