sábado, 6 de março de 2010

Ainda sou o Rei



O Negro resolveu passear pela sua propriedade, para constatar, atravém dos próprios olhos, a veracidade do que lhe disseram: A sua terra estava morrendo.
Quando vieram com essa má notícia, ele resistiu, não deu ouvidos; afinal, a sua terra era fértil, frutífera, abundante.
Muitos desfrutaram dela, comendo dos seus frutos, fartando-se como bem entendiam.
Negros, pardos e morenos, daqui e de acolá a conheceram, experimentaram.
E ela nunca falhou.
Jamais.
O Negro a adquiriu há quase 6 meses atrás e, após 3 meses de estudos e comparações, a escolheu para ser sua.
Não se arrependeu em instante algum de sua decisão, desde então.
Obviamente, houve momentos em que teve a impressão de ter feito a escolha errada, de ter sido um pouco precipitado, mas tais momentos sempre foram curtos e um simples passeio com os olhos era suficiente para espantar tais pensamentos de si.
Jamais aceitou a idéia de dividir sua terra com alguém, pois ele, somente ele, deveria ser o Dono absoluto. Sempre.

Não nasceu para dividir as suas coisas, seu senso de posse era tamanho.
Por 3 vezes, permitiu que estranhos a conhecessem:
Na primeira ocasião, veio 1 rapaz das terras mageenses ; o qual almoçou em sua companhia, pousou para fotos que alimentaram o seu ego e, após o Negro se afastar de propósito, brincou em sua terra.
Esse, quase O comeu.
Na segunda ocasião, o próprio Negro convidou um estranho para um passeio; o qual não quis almoçar, apenas matou a sede com dois ou três copos d'água, tamanha era o seu interesse em comer a terra, que o chupou com a maestria e a experiência que os anos lhe deram.
Esse, o comeu.
E comeu com gosto, com força, deixando o seu suor por toda a parte.
A terra não parecia estar totalmente entregue àquele ritual, contudo, o fez, o aceitou, porque o seu Dono havia determinado.
Enfim, a derradeira experiência.
Dois estranhos chegaram e chamaram pelo Negro nas primeiras horas da manhã.
Queriam muito se divertir naquele solo branco. Enfim, todos foram apresentados e gostaram do que viram.
O Negro os deixou à vontade, lhes concedeu ampla liberdade e, por uns instantes, agiu como se os dois fossem seus sócios.
Beijaram a terra, lamberam-na.
Foram lambidos e chupados por ela.
Comeram-na.
Se lambusaram ali, fartaram-se sem vergonha ou tímidez.
Usaram um certo ópio, que os excitou ainda mais.
Uma orgia, um bacanal, tal qual os das antigas Grécia e Roma.
Doces e Amargos tempos...

Agora, eis ali o Negro, com passos lentos e olhar distante, se perdendo em várias teorias na tentativa ( até agora vã ) de explicar essa escassez súbita.
A sua terra, simplesmente, não lhe dá alimento há dias.
Está fria, seca, sem razão aparente.
O que acontece?
O que faz a sua propriedade tão jovem, com apenas 31 anos se perturbar dessa maneira?
Sua terra adoeceu?
Secou?
Será que o jovem Negro perdeu o espaço?
Ele o ama, é verdade. Mas precisa comer.
Tem fome.
Se acostumou a comer várias vezes na semana, a brincar com a sua terra todos os dias e vê-la, quase que diariamente, jorrando o leite que ele aprecia tanto...que tanto o excita.

Outras terras começam a chamar, a gritar, por sua atenção e, até esse instante, o Negro não lhes deu atenção. Por mais belas e aparentemente ricas e fartas que pareçam, ainda, estão muito aquém do mínimo para atrair toda a sua atenção e todo o seu desejo de posse.
De dia a esperança...de tarde a frustração.

A hora de migrar finalmente veio?
Não sei, não sei.
Mas uma coisa é certa: o solo branco ainda tem o cheiro do mijo do Negro, ainda tem, visíveis, as gotas de sua porra grossa.

E isso só tem um significado: O Negro ainda é o Dono dessa merda!

2 comentários:

  1. Um dos melhores e mais subjetivos já escritos por mim.

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  2. Este negro já teve várias terras que foram suas. Será que este negro somente lembra de sua última conquista, desta terra tão adorada e querida, no momento?
    O negro tem que lembrar que seu leite já correu por entre outros rios e regos...
    E que fez a paisagem resplandecer...

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