Era um anjo belo, invejado pelos demais anjos por sua beleza, por sua intensa luz.
Mas sentia-se infeliz, sentia-se só, ainda que cercado por uma incontável multidão, até que aquele Ser surgiu entre os imortais.
Ninguém sabia de onde viera, quem o criara, ou qual era o seu objetivo.
Apenas surgira.
Era um Ser Negro.
Era um Ser negro, com uma alma escura, de olhos sábios, andar silencioso e poucas palavras.Mas a sua força, o seu poder, eram tão perceptíveis...quase tangíveis.
"Ele é o meu Destino", pensou o Anjo.
Não havia mais seres, angelicais ou não, que existissem nos céus e no mundo dos mortos.Só havia aquele Ser negro.
O Negro ergueu o seu olhar ao alto, onde residia o anjo branco, e, apenas com os seus olhos ordenou: "Desça, Anjo iluminado, far-te-ei conhecer os meus Infernos!"Ao peso daquele olhar, tremeu o anjo branco.
Tremeu, suou, e rezou ao seu criador para lhe dar forças, para ajudar-lhe a resistir ao inimigo de sua alma...que, inexoravelmente, também era o amigo de sua alma. O ser que lhe daria a vida sonhada desde o gênesis de sua existência.Mas o seu criador não lhe atendeu (talvez por não desejar atendê-lo). Seria para isso que o criara? Para entregar o seu Anjo ao poder demoníaco daquele Ser negro.O tempo passou e a força magnética aumentava.
Era cada vez mais irresistível a voz grave e infernalmente deliciosa daquela criatura.
"Venha para mim...te espero em minhas recâmaras..."
Num belo dia quando o Criador dormia, o Anjo abriu as portas celestiais e desceu...desceu...desceu...Encontrou-se com o seu Dono, com o Senhor de seus suspiros, na terra.
Houve o sexo mais terrível de todos os tempos.
Houve dor, sangue, humilhação e prazer como jamais se viram iguais.
A terra estremeceu, tamanha a força dos seres imortais.
Sim, sangue jorrou, pois os espíritos só recebem permissão para pisarem aqui se lhes forem criados corpos ( ainda que provisórios). Era uma transa (des)humana, angelico-demoníaca que se abateu sobre o planeta que desestruturou os alicerces fundados desde o "no príncipio, criou Deus os céus e a terra..."
A grande hora chegou: a hora do clímax.
Que clímax!
Ouviam-se os urros, os grunhidos; e foi tão forte ,tão intenso que o mar se agitou e o sol escureceu...Só houve morte.
O Negro pegou a coleira, prendeu-a ao pescoço do anjo branco e mandou-lhe declamar o Juramento Eterno.Acabando o juramento, levou para o seu lar de fogo.Onde mantem o Iluminado eternamente cativo por seu poder e por seu sexo.Ali, prostrado como bicho, humilhado e amarrado como nada, aquele Anjo experimentou pela primeira vez a verdade da palavra REDENÇÃO.
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